Já espalhei para meio mundo que estou em tratamento. Embora não tenha um diagnóstico fechado, o CID que ganhei foi de Ansiedade Generalizada. Não sei quão importante é ter essa definição, mas o fato é: estou sob orientação médica e por isso tenho usado medicação, ou drogas psiquiátricas. Como são fármacos de uso diário, precisei ter uma caixinha de remédios para casa, outra para levar para a rua e as cartelas vazias se avolumam relativamente rápido. Por isso pensei dar um destino artístico às tais cartelas.
Essas drogas me ajudam a desacelerar a mente, comer mais, ter sono etc. Atividades muito básicas da vida. Sinto-me um pouco triste de precisar desse apoio. Daí fiquei refletindo como quiçá ninguém consegue levar a vida sem a “ajuda” de alguma substância, obtida organicamente ou por síntese química. Nesse contexto a busca por uma normalidade me parece vã. “Todos vão a drogaria” é um lembrete dessa forma de existir que compartilhamos.
Não é uma reflexão muito diferente das que já existem. Por exemplo a frase “de perto ninguém é normal” aprendi com meu pai há anos. Acontece que nessa temporada artística quero mesmo trabalhar com lembretes. Estou falando coisas que, acredito eu, ainda precisam ser repetidas, lidas e relidas. Até entranhar.
Falando do processo da colagem em si: achei legal conhecer a aparência de algumas plantas das quais geralmente só conhecemos o produto. Fiz questão de buscar os nomes científicos para não confundir as plantinhas. Descobri que o tabaco tem uma flor bem bonitinha e que alguns cogumelos alucinógenos têm carinha de ilustração de livro infantil. No fim as plantas usadas como droga tem um apelo muito estético e o assunto principal da arte pode passar despercebido. Inclusive fiquei bem curiosa para saber quais plantas foram identificadas pelas pessoas.
Confesso que fugi de algumas polêmicas ao deixar de acrescentar junto às drogas a cana-de-açúcar e a camomila. Para mim elas poderiam ser consideradas drogas, assim como o café. Mas como alguns médicos dizem que não pode chamar alimento de droga, recuei. Também não quis colocar a cocaína. Aí a “caretice” foi minha mesmo. A planta usada para fazer cocaína é uma gracinha, mas talvez ela seja uma das drogas mais perigosas. Fugi dessa apologia em específico.
Na internet, o artista acaba se obrigando a ser duplamente cuidadoso. Nem sei se ter feito uma arte incluindo a canabis pesou contra mim… Paciência. Acredito que a descriminalização da maconha no Brasil, depois que sair essa peste da presidência, já não é mais tão distante. No fim caio em mais duas pautas “massa” para o ano de eleição: “regulamentação das drogas” e “saúde mental pública”.
Caminhando para encerrar, um bônus: humor ácido sobre drogas de que André Dahmer. Tem uma tirinha dele exatamente sobre o uso generalizado de drogas, mas não achei no mar da internet. Achei essa com um feeling similar:
Vou considerar esse post como início oficial do As novas da Lari. Daí queria muito a opinião de vocês sobre duas coisas.
1. Frequência
Uma vez por mês tá de boas? Aumento ou diminuo a frequência?
2. Assuntos
Na próxima Novas é mais legal aprofundar algum assunto que eu trouxe nos dois últimos e-mails (trabalho reprodutivo, saúde mental pública, regulamentação de drogas);
ou falar de outra colagem minha? Tem alguma colagem que vocês gostaram mais?
Por hoje é isso!
Muito obrigada por terem se inscrito <3
Um abraço!
Escreva e publique sempre que sentir que precisa e quer. A obrigatoriedade é o compromisso podem acabar com o tesão. E já basta a vida doida da gente para nós cobrar de tanto, faz deste lugar um local de transbordo e descanso.
Não sei responder as perguntas. Vim só dar apoio. Tenho depressão. Já tomei remédios. Construí um caminho sem eles, lentamente, com a prática de canoa havaiana. Boa sorte nós seus projetos