Criar a partir das pré-existências
A criação, segundo Koestler, provém da síntese de ideias já existentes; de ver as coisas de modos novos e distintos. (BHASKAR, 2020, p.66)
Esse trecho do livro “Curadoria” me lembra algo que me instiga na colagem: as pré-existências. Existem tantos desenhistas, fotógrafos, ilustradores, escritores, absolutamente competentes, que muitas vezes me sinto desanimada em ser mais uma em qualquer uma dessas categorias. Mas na colagem parto desse repertório imagético-literário pré-existente e recombino, adiciono, suprimo, troco a fim de criar imagens e frases inéditas.
Sou completamente fascinada por ilustrações botânicas e sempre as uso nas minhas colagens. Mas gosto de ter em mente que são desenhos, muitas vezes disponíveis em domínio público, antigos, produzidos no século XIX. Sempre fico encantada de como é vasto o acervo de imagens botânicas. E como são delicadas essas gravuras em metal, feitas com ranhuras minuciosas. Além das cores suavemente postas. Em alguma medida acho mais humilde que ao invés de buscar aprender a delicada arte da ilustração botânica eu dê nova vida a desenhos que de tão bonitos devem ser constantemente resgatados e convidados a ocuparem novas casas. Assim combino ilustrações de artistas diferentes, com fotografias das décadas de 60, 90 ou contemporâneas, etc.
O mesmo se dá com a construção de frases. O vocabulário da Língua Portuguesa se aproxima do infinito. Os temas a serem discutidos os mais variados possíveis. Por isso gosto de partir das palavras já escolhidas por um escritor ou jornalista e reorganiza-las para que expressem algo do meu tempo ou um sentimento particular meu.
Acredito que adotar essa método de reorganizar o pré-existente é uma forma de catalisar a criatividade inovadora. Uma criação que é parcialmente decorrente de uma coleta de palavras e imagens existentes e parcialmente do meu conteúdo particular, dificilmente coincidirá com a criação de outras pessoas. Esse texto, inclusive, apenas surgiu da citação (que por sua vez já era uma citação dentro do livro), algo externo a mim, combinada a minha experiência particular com as colagens.